Epilepsia: O que é, causas e tratamento

23 Maio, 2018

Epilepsia: O que é, causas e tratamento

A epilepsia caracteriza-se pela existência de uma predisposição duradoura para a pessoa apresentar crises convulsivas recorrentes, súbitas e imprevisíveis (crises epiléticas). Não há um motivo evidente e reversível que as justifique.

A epilepsia é a disfunção do sistema nervoso mais comum. Afeta cerca de 65 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, 40 a 70 mil pessoas sofrem desta doença crónica. Calcula-se que uma em cada 100 crianças sofra de epilepsia ou se torne epilético. A epilepsia representa uma das principais causas da doença crónica em idade pediátrica.

Sinais de crises

Os ataques epiléticos caracterizam-se pela apresentação de fenómenos súbitos e transitórios e podem resultar em diferentes e múltiplos sinais:

  • Olhar fixo entre cinco a 10 segundos
  • Perda súbita da força muscular com queda
  • Perda de consciência com queda
  • Movimentos musculares involuntários
  • Mordedura da língua ou bochecha
  • Rigidez muscular
  • Movimentos rítmicos de todo ou parte do corpo
  • Alterações da sensibilidade e dos sentidos
  • Perda de urina ou fezes
  • Comportamento confuso, sem objetivo

Causas

Genética

A epilepsia pode ter origem num defeito genético conhecido ou presumido. Por exemplo, mutações do gene SCN1A e o síndrome de Dravet. No entanto, há fatores do meio ambiente que podem contribuir para a expressão da doença.

Metabólica

Uma condição distinta estrutural ou metabólica pode motivar um substancial aumento do risco de desenvolver epilepsia. Lesões estruturais incluem distúrbios adquiridos como acidente vascular cerebral, trauma e infeção. Algumas das causas estruturais são de origem genética, por exemplo, esclerose tuberosa ou malformações do desenvolvimento cortical.

Desconhecida

Há ainda outras causas de natureza não conhecida. Pode haver um defeito genético fundamental ou ser a consequência de um distúrbio separado ainda não reconhecido.

Há fatores que podem desencadear uma crise epilética e devem ser evitados, tais como:

  • Stress
  • Privação de sono
  • Suspensão abruta de medicamentos
  • Febre e infeções
  • Hipoglicemias
  • Toma de medicamentos (antidepressivos, anestésicos, entre outros)

Tipos de crises

As crises não se manifestam todas de forma igual e a mesma pessoa pode apresentar crises distintas.

Crise epilética parcial

A descarga elétrica tem lugar numa zona reduzida da superfície cerebral. Por vezes, generaliza-se e atinge o resto do cérebro. Os sintomas diferem consoante a zona do cérebro onde ocorre a descarga. Na zona motora cerebral manifesta-se através de movimentos involuntários de um lado do corpo, sem perda de consciência. Na região da sensibilidade pode provocar uma alteração sensitiva focal transitória como, por exemplo, um formigueiro. Na zona visual pode provocar uma visão de luzes.

Crise epilética generalizada

A descarga elétrica afeta toda a superfície cerebral ao mesmo tempo.

Crise generalizada tónico-clónica

Está associada a perda de consciência. A pessoa cai imediatamente no chão. Manifesta-se também através de movimentos involuntários dos membros. Morder a língua, espumar pela boca e incontinência urinária são outras das manifestações deste tipo de crise.

Crise generalizada de ausência

A pessoa fica imóvel, desligada do meio envolvente, com o olhar fixo, durante 10 a 15 segundos. Este tipo de crise é comum em crianças e adolescentes. E tende a desaparecer com a idade. Podem provocar quebras no rendimento escolar por défices de atenção e de aprendizagem.

Crise mioclónica

Caracteriza-se por uma tremores súbitos de todo ou parte do corpo durante alguns segundos.

Crise generalizada atónica

Implica uma perda brusca do tónus muscular e da consciência, que dura apenas alguns segundos e da qual se recupera em poucos segundos também.

Diagnóstico

É uma doença habitualmente identificada a partir de um diagnóstico clínico, feito pelo médico a partir da descrição detalhada dos episódios. O diagnóstico é feito, por norma, com recurso a exames radiológicos (TC crânio ou RM cranioencefálica) e o eletroencefalograma (EEG).

Como atuar em caso de crises

Nas crises generalizadas em que a pessoa perde a consciência, cai ao chão e faz movimentos involuntários, as pessoas à volta devem:

  • Retirar os objetos em redor com os quais a pessoa se possa magoar
  • Colocar uma proteção por baixo da cabeça da pessoa (por exemplo, um casaco)
  • Nunca agarrar a pessoa (pode deslocar uma articulação)
  • Não pôr nada na boca da pessoa (risco de partir um dente ou de ser mordido)
  • Se a pessoa ceder, tentar coloca-la na posição lateral de segurança
  • Cronometrar a duração da crise, se exceder cinco minutos, ligar o 112.

Tratamento

Atualmente, o tratamento das crises é mais eficaz e tem menos efeitos secundários, melhorando substancialmente a qualidade de vida do doente.

Medicação

Os medicamentos antiepiléticos são utilizados para controlar as crises com o mínimo de efeitos secundários, o que acontece em 70 a 80% dos casos.

Cirurgia da epilepsia

É utilizada nos tipos de epilepsia que não respondem a medicação. Consiste na remoção da área cerebral que provoca as crises ou na interrupção do caminho do nervo ao longo do qual as descargas elétricas anormais se espalham.

Dieta cetogénica

Consiste numa dieta que tem como base a eliminação dos hidratos de carbono, manutenção de uma boa quantidade de proteínas e aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras. Desta forma, criam-se corpos cetónicos no sangue e na urina, que servem para produzir cetose, que ajuda no tratamento das crises.

Estimulação do nervo vago

Utilização de um dispositivo estimulador implantado sob a pele do tórax. As crises são controladas através desta estimulação intermitente do nervo vago. Regula-se assim a atividade elétrica cerebral.

Com o devido acompanhamento médico, os doentes com epilepsia podem ter uma vida normal. O tratamento adequado permite reduzir e até mesmo evitar as crises.