Como lidar com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)?

12 Novembro, 2018

Como lidar com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)?

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é um distúrbio no neurodesenvolvimento da criança que se manifesta entre os 6 e os 12 anos e pode prolongar-se até à idade adulta. Este transtorno afeta o seu desenvolvimento e função cerebral, nomeadamente do sistema nervoso.

Como o nome indica, a PHDA caracteriza-se pela falta de atenção, agitação constante e impulsividade que não são justificáveis tendo em conta a idade da pessoa, podendo criar problemas em casa e na escola. Embora esta doença melhore com a idade, senão for tratada devidamente, pode continuar a ter repercussões futuras.

Os sintomas variam de rapazes para raparigas, sendo que os rapazes têm uma maior probabilidade de adquirir este distúrbio. Uma das principais consequências da PHDA é uma enorme desatenção que acaba por desencadear maus resultados escolares e isolamento.

Causas

Embora as verdadeiras causas sejam desconhecidas, há vários fatores que influenciam a PHDA:

  • Poderá ter influência genética. A probabilidade de adquirir este distúrbio duplica se uma criança tiver um pai ou mãe com esta perturbação.
  • Há uma maior tendência para esta perturbação caso os fatores genéticos se conjuguem com fatores ambientais que potenciem esse estímulo. Por exemplo, ambientes agressivos, familiares conflituosos, negligência por parte dos pais, etc.
  • Muitos problemas estão também associados ao momento da gravidez ou do parto, como, por exemplo: hemorragia pré-parto; consumo de tabaco e/ou álcool durante a gravidez; má saúde materna; stress fetal; etc.
  • Dieta alimentar pobre em nutrientes, proteínas, vitaminas, ácidos gordos e açúcar.
  • Problemas de ansiedade, depressão, intolerância às frustrações, abuso de substâncias químicas, etc.

Diagnóstico

Os sintomas manifestam-se antes dos doze anos de idade e prologam-se, pelo menos, durante mais de seis meses.

É imprescindível que o diagnóstico seja feito por profissionais para que os sintomas possam ser analisados corretamente.

Este processo é bastante complexo envolvendo questionários, observação direta do comportamento, análise da ficha médica do paciente e do seu ambiente familiar, avaliação neuropsicológica e outras avaliações complementares que poderão ser necessárias.

Sintomas

Os sintomas diferem de acordo com a idade.

  • Bebé: torna-se insaciável, facilmente irritável e é com dificuldade que se consegue acalmá-lo. Tem dificuldades em dormir e na alimentação.
  • Primeira infância: Fica irritado, agitado e inquieto. É desobediente e dificilmente fica satisfeito com qualquer coisa.
  • Criança: distrai-se muito facilmente, não conseguindo concentrar-se. É muito impulsivo, podendo envolver-se em brigas. Pode ou não surgir hiperatividade.
  • Adolescente: Problemas de memória e concentração. Dificuldade em pensar e fazer planos a longo prazo. Inquieto e impulsivo.
  • Adulto: Impaciente, inquieto, hiperativo, falta de concentração, distrai-se facilmente, ansioso, etc. Muitos adultos têm dificuldades em manter relacionamentos uma vez que facilmente perdem o interesse na pessoa com quem se encontram.

Défice de atenção

  • Falta de atenção na escola, nas tarefas que desempenha, nas atividades, nos trabalhos, etc., deixando-se distrair facilmente e tendo dificuldade em executar determinadas instruções.
  • Falta de organização; dificuldade em ser disciplinado.
  • Desobediência
  • Resistência no envolvimento de tarefas que exijam esforço mental
  • Esquece-se com muita frequência das atividades que tem para fazer diariamente ou/e tem facilidade em perder as coisas

*Atenção: pode haver défice de atenção sem hiperatividade.

Hiperatividade

  • Fala muito
  • Dificilmente consegue desempenhar atividades silenciosamente
  • Dificuldade em manter-se sossegado ou calado quando lhe é pedido
  • Necessidade de estar constantemente em movimento ou a fazer alguma coisa
  • Encontra-se frequentemente agitado e energético

Impulsividade

  • Impaciente; dificuldade em esperar pela sua vez.
  • Interrompe conversas ou intromete-se nos assuntos dos outros
  • Por exemplo: responde às questões antes destas terem sido finalizadas.
  • Falta de noção do perigo
  • Age sem refletir nas consequências

Estes sintomas devem surgir em, pelo menos, dois ambientes díspares, como em casa e na escola, tendo consequências a nível social e académico. Frequentemente são associados, erradamente, à preguiça, falta de empenho ou imaturidade.

As crianças que apresentam a PHDA embora apresentem dificuldades a nível comportamental e de aprendizagem, têm, contudo, capacidade de assimilar informações e conseguem, caso pretendam, focar-se em algumas coisas. Estas crianças simplesmente têm mais tendência a sentirem-se entediadas e a perder o seu interesse nos trabalhos que desempenham. Estão sempre mais focadas em atividades que sejam divertidas e recompensadoras.

Ao invés de trabalhos mais longos com recompensas que demoram algum tempo a ser alcançadas, têm preferência por trabalhos rápidos e mais pequenos com uma recompensa imediata, por muito que esta não seja de muita importância.

Estas crianças são também bastante impulsivas e dificilmente conseguem controlar esses impulsos. Esse problema conjugado com a falta de atenção, faz com que prefiram sempre arranjar atalhos para concluir os seus trabalhos. Quanto mais entediante for a tarefa, menor é o esforço que aplicam e menor é o tempo que despendem nisso.

Estas crianças são muito imaturas para a sua idade e têm imensa dificuldade em manter os objetivos a que se propõe, estando constantemente a alterar as suas metas para aquilo que seja mais conveniente e menos trabalhoso.

O que fazer em casa e na escola

Em ambos os sítios deve existir estratégias de planeamento, organização e comunicação adequadas às crianças.

Em casa

  • Fixar um local para que a criança estude. Este local deve ser longe da janela e de aparelhos eletrónicos (televisão, telemóvel, consolas, etc.). Deve também ser um local isento de agitação e bem iluminado.
  • Ajudar as crianças na organização das tarefas, definindo o que ela tem de fazer e estudar
  • Permitir à criança pequenos intervalos durante estudo
  • Recompensá-la pelo trabalho feito ou pelo comportamento adequado

Na escola

  • O professor deve procurar dar as aulas com entusiasmo
  • Deverá destacar a informação relevante e fazer pequenos resumos com frases curtas e objetivas que exprimam o essencial da matéria.
  • Não humilhar nem rebaixar o aluno.

Tratamento

Três intervenções terão de ser realizadas: intervenção farmacológica, em que o paciente será medicado; intervenção psicoterapêutica, em que haverá um acompanhamento direto de um psicólogo; e intervenção psicossocial, que procura fazer programas para os familiares e para a escola da criança.

Uma vez que os tratamentos são sobretudo farmacológicos e comportamentais, será necessário um aconselhamento psiquiátrico e, caso o seu médico o recomende, começar a tomar a medicação indicada e alterar o seu estilo de vida. Será ainda necessário o apoio psicológico educacional e/ou comportamental e terapia ocupacional ou psicopedagógica, pois só os medicamentos são insuficientes. A criança terá um longo percurso de esforço e aprendizagem para controlar a sua impulsividade, melhorar a sua atenção e encontrar estratégias de organização e de estudo.

Não se esqueça que é muito importante ajudar as pessoas que sofrem de PHDA, sobretudo enquanto são crianças. Pois, muitas vezes, no caso das crianças, estas sentem-se diferentes das outras e acabam por se isolar. Para além disso, o facto de não conseguirem concluir as suas tarefas normalmente faz com que fiquem frustradas com as suas incapacidades, o que acaba por lhes gerar tristeza, baixa auto-estima e problemas de stress.

O ambiente familiar em que o indivíduo se encontra também é fundamental na amenização desta perturbação. Convém que haja um ambiente estável e silencioso, principalmente quando o indivíduo precisar de estudar ou trabalhar.

A ajuda dos professores na escola é crucial e convém que a criança se sente na primeira fila, afastada da janela, para que não haja distrações. Aulas de tutoria ou de apoio também podem ser úteis.

O foco dos pais e dos professores deve ser procurar recompensar a criança pelo seu bom desempenho e valorizar as suas qualidades, e não tanto a punição de erros e falhas cometidas.

A punição, quando feita, deve ser desprovida de agressividade.

Não se esqueça que a família é fundamental quando existem problemas infantis. Para que a medicação surta efeito, é necessário que haja um acompanhamento por parte dos pais com os seus filhos.

*Os conteúdos são informativos e não pretendem substituir pareceres de cariz profissional e científico.