Em Portugal, estima-se que haja, pelo menos, 150 mil pessoas portadoras de hepatites virais embora nem todas estejam diagnosticadas. A hepatite C, por exemplo, representa a principal causa de cancro do fígado.
Com este artigo pode conhecer os tipos de hepatite que existem e que, em conjunto, representam a sétima maior causa de morte no mundo.
Uma hepatite é uma inflamação do fígado que pode ter diversas causas, sendo as mais comuns os vírus. A hepatite ocorre quando o fígado que é responsável, por exemplo, pela digestão, armazenamento de energia ou remoção de toxinas, fica comprometido e não desempenha as suas funções corretamente. Esta inflamação pode desaparecer espontaneamente ou progredir para fibrose (cicatrizes), cirrose ou cancro do fígado.
As hepatites podem ser provocadas por agentes infeciosos, como vírus, ou pelo consumo de produtos tóxicos como o álcool, medicamentos e algumas plantas. Ao todo, existem seis tipos diferentes de vírus da hepatite.
Existem também hepatites autoimunes em que o próprio sistema imunitário, sem qualquer razão aparente, começa a desenvolver autoanticorpos que atacam as células do fígado em vez de as protegerem. Esta hepatite, ao contrário da hepatite viral, atinge sobretudo as mulheres, entre os 20 e os 30 anos e entre os 40 e os 60 anos. Geralmente transforma-se numa doença crónica e evolui quase sempre, quando não é tratada, para cirrose.
A gravidade da doença é variável conforme o tipo de hepatite. Em muitos casos, esta doença não se associa a quaisquer sintomas. No entanto, quando se manifesta, os sinais mais comuns são a fadiga, a perda de apetite, náuseas, vómitos, diarreia, urina escura, fezes claras, dores abdominais, coloração amarela da pele e dos olhos (icterícia).
Dependendo do agente que a provoca, numa fase aguda da doença, o tratamento da hepatite passa essencialmente por permitir que o fígado possa recuperar, sendo importante o repouso físico e a dieta.
O recurso a medicamentos específicos é importante nas formas mais graves e crónicas da hepatite e deverá ser sempre avaliado caso a caso. Nestes casos, há necessidade de recorrer a um tratamento mais complexo que permite controlar a evolução da doença sem a curar. Os medicamentos procuram, assim, limitar a multiplicação do vírus e, desse modo, reduzir as lesões causadas ao fígado.
A hepatite pode tornar-se crónica se perdurar por mais de seis meses e pode evoluir para uma lesão mais grave no fígado, como a cirrose ou mesmo cancro do fígado.
Existem seis tipos diferentes de vírus da hepatite: A, B, C, D, E e G.
A hepatite A e E são semelhantes e comportam-se de maneira semelhante. A sua forma de transmissão diz-se ‘fecal-oral’, ou seja, através da ingestão de água e alimentos contaminados por pessoas infetadas ou diretamente de uma pessoa infetada para outra. É por esta razão que a infeção é muito mais comum nas crianças, pois no convívio entre elas existe muita partilha de brinquedos e outros objetos que muitas vezes passaram pela boca de uns e outros.
A transmissão da hepatite B, C e D é feita através do contacto do vírus com o sangue do paciente a partir de outros fluidos contaminados. Ou seja, é transmitido por via sexual, por transfusão de sangue, por partilha de seringas ou na transmissão da mãe para o filho durante a gravidez. No caso da hepatite B e C é frequente a evolução para uma doença crónica.
Descoberta recentemente, a hepatite G é transmitida, sobretudo, pelo contacto sanguíneo.
Hepatite A
Em regra, a hepatite A cura-se ao fim de 3 a 5 semanas e não evolui para doença crónica. Inicialmente assemelha-se a uma gripe com febre, dores musculares e mal-estar geral, depois surge icterícia, falta de apetite e vómitos. Raramente exige internamento hospitalar.
Não há um medicamento específico e o tratamento passa pelo repouso e por uma dieta rica em proteínas e baixa em gorduras. Embora seja uma forma pouco grave de doença, pode ser fatal em zonas com escassas condições sanitárias.
A sua prevenção passa por medidas de higiene como lavar as mãos sempre que se contacte com materiais potencialmente contaminados e, no caso de se viajar para países da Ásia, África ou das Américas (Central e do Sul), optar por beber água engarrafada e ingerir alimentos embalados.
Existe uma vacina que é recomendada para pessoas que viajam com frequência ou que permanecem longos períodos em países onde a doença é comum.
Hepatite B
A hepatite B é, talvez, a mais perigosa e grave, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. É mais comum na Ásia, Pacífico e África intertropical, do que no mundo ocidental. Pode tornar-se crónica e pode ser fatal, evoluindo para cancro do fígado.
As principais formas de contágio são o contacto sexual e a partilha de seringas entre os que utilizam drogas injetáveis.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo a hepatite B causa a morte a 600 mil pessoas por dia. Em Portugal, a hepatite B afeta cerca de 1 a 1,5% da população.
Nas formas agudas, o tratamento passa pelo repouso. Nas formas crónicas, recorre-se a medicamentos como os interferões e outros também utilizados para controlar a infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou SIDA).
Mesmo sendo uma forma grave de hepatite, pode ser prevenida pela vacinação que tem uma eficácia de cerca de 95%. Esta vacina é administrada em três doses e está incluída no Programa Nacional de Vacinação.
Hepatite C
A hepatite C evolui com muita frequência para formas crónicas. Estima-se que existam 70 mil portadores deste vírus em Portugal, que pode evoluir para doença hepática grave.
Os principais afetados são os consumidores de drogas injetáveis e as pessoas que receberam uma transfusão de sangue antes de 1992. O contacto sexual é uma forma possível de infeção mas é menos comum.
Em Portugal, é a principal causa de cancro do fígado (60% do total de casos) e uma das mais importantes causas de cirrose (25% do total de casos).
Nos últimos três anos, de acordo com os dados divulgados pelo Infarmed, mais de 15.000 doentes com hepatite C iniciaram o tratamento inovador com medicamentos antivíricos de ação direta. A taxa de cura destes tratamentos ronda os 97%.
Hepatite D
A hepatite D pode ocorrer em simultâneo com a infeção do vírus da hepatite B (coinfecção) ou depois de a pessoa já ser portadora do vírus da Hepatite B (superinfeção), aumentando a gravidade dessa infeção.
Na coinfecção, a hepatite pode ser grave e fulminante, mas raramente evolui para uma forma crónica. Nos casos de superinfeção, o vírus da hepatite D provoca uma hepatite aguda grave e evolui para hepatite crónica em 80% dos casos podendo causar lesões hepáticas graves e contribuir para o desenvolvimento da cirrose. A evolução para cirrose geralmente demora cinco a dez anos, mas pode surgir 24 meses após a infeção.
A infeção ocorre através do contacto com sangue contaminado ou fluidos sexuais. Não existe vacina para este vírus uma vez que o mesmo só pode infetar alguém na presença do vírus da hepatite B. A vacina contra a hepatite B previne, com 95 por cento de eficácia, a infeção por este vírus.
Hepatite E
A hepatite E transmite-se pelo consumo de água ou alimentos contaminados e, de um modo geral, não evolui para uma doença crónica. É mais comum nos climas quentes e o maior perigo de infeção regista-se nos países em desenvolvimento com condições de higiene e saneamento básico precárias.
A doença, em geral, não é grave, exceto quando ocorre uma hepatite fulminante que leva à interrupção total ou quase total do funcionamento do fígado. As infeções são, por isso, em geral, limitadas, e a recuperação acontece em pouco tempo e não é necessária hospitalização, exceto em casos de hepatite fulminante.
O risco de complicações é mais elevado nas grávidas, podendo atingir uma taxa de mortalidade de 20 por cento, se o vírus for contraído durante o terceiro trimestre de gravidez.
Quando se viaja para zonas onde a doença é comum, devem redobrar-se os cuidados de higiene, beber sempre água engarrafada e selada, consumir apenas frutas e vegetais cozinhados e evitar o consumo de marisco cru.
Não está provado o contágio por via sexual mas devem evitar-se os contactos oro-anais.
A hepatite E atinge cerca de 4,2% da população portuguesa e existe vacina já testada mas ainda não comercializada.
Hepatite G
A hepatite G foi recentemente descoberta. Desconhecem-se, ainda, todas as formas de contágio possíveis, mas sabe-se que a doença é transmitida, sobretudo, pelo contacto sanguíneo.
A gravidade da infeção é baixa ou quase nula. Só há relatos esporádicos de infeção fulminante. Entre 90 a 100 por cento dos infetados tornam-se crónicos mas podem nunca vir a desenvolver uma doença hepática.
Ainda não foi possível determinar com exatidão as consequências da infeção por este vírus mas, por enquanto, tudo leva a crer que o vírus não provoca lesões hepáticas. As pessoas infetadas com o vírus da hepatite G não apresentam sintomas.
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