Hoje, vamos contar a extraordinária história de Thauana, de 31 anos, que há 86 dias, fez dos Serviços de Ginecologia-Obstetrícia e de Neonatologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), que integra a Unidade Local de Saúde de Amadora/Sintra, a sua segunda “casa”.
O destino já trocou por várias vezes as voltas à vida de Thauana. E, na sua primeira gravidez, revolucionou-a. “Primeira e última gravidez”, garante.
Esta mulher brasileira, com rosto de índia, tem uma mistura de ancestrais que refere com orgulho, e veio para Portugal com oito anos. São tantos anos que mistura sotaques dos dois países de uma forma que se torna quase impossível identificar de que nacionalidade é.
Está com Mateo ao colo, na Unidade de Neonatologia do HFF. O pequenito, à data desta entrevista, 57 dias depois de a sua mãe ter dado entrada na nossa Instituição, transferida da Maternidade Alfredo da Costa, pesa pouco mais de dois quilos.
O bebé ainda deveria estar ainda na barriga da sua mãe – a gestação completaria 37 semanas quando entrevistámos a sua mãe.
Thauana, como todas as mães de prematuros, tinha outros sonhos para esta sua primeira gravidez. Aliás, até subscreveu um seguro de saúde e planeou a vigilância desta gravidez num hospital privado na cidade onde reside, as Caldas da Rainha, a 110 quilómetros de distância do HFF.
Esta mamã recorda: “Nos primeiros meses de gravidez, a minha barriga era muito redondinha – e, por isso, todos diziam que era uma menina”, diz, na brincadeira, com um rapaz pequenino ao colo.
Na primeira ecografia, uma surpresa – não era apenas uma menina…Eram… Um, dois, três bebés: a conta que Deus fez!
“Confesso: fui à primeira ecografia, do primeiro trimestre de gravidez, com 12 semanas de gravidez, com um pressentimento de que eram gémeos. A minha cunhada também estava grávida e havia muita comparação entre os tamanhos das barrigas – a minha era muito maior! O meu pai tem irmãs gémeas e tem algumas primas distantes com trigémeos e quadrigémeos. Do lado da minha mãe também há historial. Havia grande probabilidade de acontecer, mas pensei: Vamos ter fé!”, recorda, entre gargalhadas.
“O médico colocou a sonda e eu percebi logo que eram dois. Quando puxou a sonda para o outro lado da barriga, vi no monitor outro coração. Aí levei as mãos à cabeça e o pai dos meninos começou logo a chorar! Eu só não desmaiei porque estava deitada”, lembra.
Thauana manteve-se calma, mas de imediato informaram-na que era inviável esta gravidez trigemelar ser acompanhada no setor privado a partir da cidade de Caldas da Rainha.
“O Serviço Nacional de Saúde foi quem me valeu! Passei a fazer deslocações quinzenais ao Hospital de São Francisco Xavier. Foi complicado – havia dias em que tinha de me deslocar três dias consecutivos”, relembra Thauana.
“Três é a conta que Deus fez”, diz o provérbio. Outro ditame popular invoca que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, garantindo que uma dificuldade tem sempre a magnitude que a pessoa, vítima dela, pode suportar e superar. Thauana conhece bem como se faz esse caminho e sempre sem perder a capacidade de sorrir e amar a vida – assim superou o enorme desgosto da morte do seu noivo e assim abraçou a vinda dos seus três bebés e toda a jornada da sua gravidez.
“Foi muita ‘sofrência’ desde o dia tive de ser internada no hospital, porque o meu útero era muito pequeno. Fui transferida da Maternidade Alfredo da Costa para o HFF, porque era o Hospital onde havia vaga e os bebés estavam em risco de nascer a qualquer momento”.
Nesse momento, a gravidez tinha pouco mais de seis meses. “No próprio dia em que cheguei fui logo para o Bloco de Partos para reverter as contrações: remédios, cateteres, algálias, repouso absoluto numa cama, para conseguir aguentar esta gravidez!”, diz, triunfante, a olhar para Mateo, que dorme como um anjinho ao seu colo.
Foi assim durante três semanas, entre sucessivas ameaças de parto – até completar sete meses de gravidez. “Às 28+5 semanas de gravidez, anunciaram-me que o parto tinha de acontecer. O meu ‘mais pequenino’ tinha mesmo de nascer. Só deu tempo para avisar a minha mãe”, lembra. A avó registou em fotografia os pequeninos a saírem pelo corredor, já em incubadoras, para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.
Das horas que se seguiram ao parto recorda um processo solitário: “Vamos para o quarto sem os nossos filhos; é desolador. E quando vamos ver os bebés na Unidade de Cuidados Intensivos, eles são tão ‘minorquinhas’, ali dentro de uma caixinha…”
Nos primeiros dois dias garante que esteve bem e forte, sempre positiva. Mas ao terceiro dia, desabou, com a situação de Noah, que nasceu com 790 gramas.
Thauana explica: “Houve – e há – dias muito difíceis. Não é um processo linear”. E recorre ao exemplo de Mateo, o mais forte e pesado dos seus filhos à nascença, com 1.200 kg. Mas foi também aquele que esteve entubado durante nove dias nos cuidados intensivos de Neonatologia.
Prestes a acontecer o ansiado momento da alta do primeiro filho, Thauana vai e volta todos os dias das Caldas da Rainha para a Unidade de Neonatologia do HFF. São muitos quilómetros por dia para estar diariamente com os seus bebés, assistindo às suas conquistas, a participar nos seus cuidados e a amamentar. Não teme quando à sai à noite para descansar: “Eu sei que aqui, na unidade (de Neonatologia), os meus filhos estão bem, ficam bem entregues, e que posso ir para casa descansar”.
Hoje, os três milagres de Thauana – Mateo, Luca e Noah – vão começar mais uma etapa da sua emocionante aventura pelo mundo, agora que estão fortes e crescidos, 86 dias depois de uma volta ao mundo que fizeram os quatro dentro da nossa instituição, entre duas enfermarias, cateteres, incubadoras, monitores de sinais vitais.
Hoje, os “nossos” trigémeos regressam para as Caldas da Rainha e são transferidos para a ULS do Oeste, onde receberão os cuidados de saúde que necessitam para estarem mais próximos de casa e da família que os aguarda, a cada dia do calendário que passa, para que a aventura que começou no HFF continue.
Em jeito de desabafo e agradecimento, Thauana diz-nos: “Se as pessoas tivessem a noção do trabalho que é realizado nos hospitais, do que os profissionais fazem para salvar as vidas destes seres tão pequeninos, e do apoio e consolo que dão a quem atravessa estes momentos… No Natal dei um chocolate a todos, mas mesmo todos os profissionais da Obstetrícia e da Neonatologia: médicos, enfermeiros, auxiliares, pessoas que trabalham na copa, pessoal da faxina… Mas se eu tivesse possibilidade, eu dava-lhes ouro – porque é, realmente, o que estes profissionais merecem!”
#asuasaudeanossamissao