Monitorização à distância da DPOC: projeto do Serviço de Pneumologia do HFF

17 Novembro, 2021

No dia em que se assinala o Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), damos-lhe a conhecer o projeto de telemonotorização à distância do Serviço de Pneumologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF). Este projeto visa evitar internamentos e idas desnecessárias ao hospital, traduzindo-se desta forma em ganhos em saúde para os utentes afetados por esta doença.

A Agência Lusa acompanhou o trabalho realizado por este serviço do HFF e esteve também em casa do utente António Ferreira, para desta forma ficar a conhecer em que consiste este projeto. Foram entrevistados Rui Costa, médico pneumologista e coordenador do projeto de telemonotorização, e Fernando Rodrigues, diretor do Serviço de Pneumologia do HFF.

A DPOC é caracterizada por uma obstrução progressiva das vias aéreas, associada a uma resposta inflamatória do aparelho respiratório, acarretando diversas repercussões sistémicas no doente e que podem afetar grandemente a sua qualidade de vida. Atinge um em cada dez adultos acima dos 40 anos de idade.

O diagnóstico é feito através de espirometria, um exame simples que mede o fluxo de ar nos pulmões. No Serviço de Pneumologia do HFF são cerca de 9.000 as consultas que se realizam anualmente, uma grande percentagem das quais são utentes com DPOC.

Neste dia 17 de novembro importa contribuir para um melhor conhecimento desta doença e as suas implicações nos doentes que são por ela afetados. Bem como destacar o papel dos profissionais de saúde que contribuem para o seu acompanhamento e tratamento.

Aqui fica a reportagem: 

“Cansaço e dificuldade em respirar foram os sinais de alerta da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) que levaram António Ferreira há 10 anos ao hospital e que originaram vários internamentos até começar a ser acompanhado remotamente em casa.

Entre 2010 e 2011, António Ferreira, 72 anos, começou a sentir-se mal, com alguma falta de ar, mais cansado, sintomas que caracterizam esta doença respiratória crónica, que tem em Portugal uma prevalência de 14% nas pessoas com mais de 40 anos.

“Comecei há 10 anos a ter sintomas da doença, tinha dificuldades em subir escadas, fui piorando, até à primeira vez que tive de ser internado”, contou à agência Lusa o doente, que desde 2013 necessita de receber oxigénio para diminuir a dificuldade respiratória e melhorar o seu dia-a-dia.

Chegou a fumar dois maços de tabaco por dia, um dos principais fatores de risco para a DPOC. Sobre se considera que fumar contribuiu para o problema, respondeu prontamente: “Não quero dizer que foi exclusivamente por causa disso, mas não ajudou”.

A morar num segundo andar num prédio sem elevador, subir as escadas tornou-se um desafio cada vez mais difícil, a obrigar a paragens em cada patamar para recuperar do esforço.

Os sintomas foram-se agravando. De 2011 para 2012, passou a ter “mais limitações no que fazia” e começou a ir de seis em seis meses a consultas ao Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, onde esteve “sete ou oito vezes” internado.

Em julho do ano passado, o pneumologista propôs-lhe participar num projeto de telemonotorização que visa evitar idas desnecessárias ao hospital e internamentos.

“Aceitei logo (…) não era para ficar melhor, mas tirava-me o ‘drama’ de ter que ir ao hospital duas a três vezes por ano para consultas regulares, onde faziam praticamente a mesma coisa que faço em casa, tendo a certeza de que isto é acompanhado e que sabem se estou a ficar melhor ou pior”, salientou.

Assim, a medição do oxigénio no sangue, da temperatura, da pressão arterial e das pulsações por minuto tornou-se uma rotina na vida de António Ferreira, que diariamente regista os dados num ‘tablet’, visualizado em tempo real por enfermeiros que acompanham remotamente o seu estado de saúde.

No dia da reportagem da Lusa, o doente não inseriu os dados da temperatura e recebeu de imediato o telefonema de uma enfermeira a perguntar se estava tudo bem.

Contou que o “grande drama” no início era o duche, mas já o adaptou, assim como aumentou o tubo por onde passa o oxigénio para poder ter mais mobilidade em casa. Reuniu tudo o que precisa diariamente como água, azeite ou café, para não ter de fazer tanto esforço, e passou a fazer as compras ‘online’.

“Hoje já faço as coisas de maneira a cansar-me o menos possível”, disse, referindo que aprendeu a viver com a doença e com o facto de estar 24 horas por dia ligado a um equipamento.

Segundo o pneumologista do HFF, Rui Costa, este projeto surgiu da necessidade de diminuir a afluência ao hospital de doentes com DPOC, uma doença que representa “um grande peso para as instituições” porque são doentes, a maioria com gravidade, que “necessitam amiúde” dos serviços hospitalares.

Foram selecionados oito doentes com base nos critérios de três idas às urgências no último ano ou dois internamentos, tendo-lhes sido dada formação e um ‘tablet’ em que registam os dados que permitem a deteção atempada dos sintomas de agudização da doença e a intervenção imediata.

“Já temos autorização para aumentar com mais quatro doentes e, se calhar, progressivamente ainda mais, porque pensamos que assim conseguimos não só prevenir as exacerbações e as vindas ao hospital como acompanhá-los” permanentemente, adiantou Rui Costa.

Por outro lado, salientou, “os doentes sentem-se muito mais responsabilizados, cumprem muito melhor a terapêutica e isto é meio caminho andado para conseguir controlar a doença”.

Dois dos oito doentes foram internados neste período, um deles acabou por morrer. “Os outros temos conseguido controlá-los e têm estado relativamente bem, inclusive, têm despertado muito poucos alarmes”, observou o médico.

O diretor do Serviço de Pneumologia, Fernando Rodrigues, defendeu, por seu turno, que este projeto que já vigora noutros hospitais, “deveria ser prioritário em todos os serviços de pneumologia”.

Devido à poluição ambiental e ao tabaco, tem vindo “a crescer progressivamente” o número destes casos, com as consequências inerentes em gastos em saúde e para os doentes que “veem os seus anos de vida a diminuírem significativamente se a doença não for bem controlada”, sublinhou Fernando Rodrigues.”

Fotografias – Mário Cruz (Agência Lusa) e Gabinete de Comunicação do HFF