Decorreu recentemente mais uma Sessão do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) e teve como tema “Programa de doação e colheita de córneas humanas para transplante: balanço de 10 anos”. A sessão esteve a cargo de Ana Paula Fernandes, médica e coordenadora do Núcleo de Coordenação Hospitalar de Doação (NCHD) do HFF e António Pedro Gomes, médico e membro do NCHD do HFF.

Em 2023 cumprem-se 10 anos do Programa de Doação e Colheita de Córneas Humanas para Transplante no HFF. Este Programa resulta da conjugação da necessidade sentida pelo Serviço de Oftalmologia para dar resposta aos/às doentes em lista de espera para transplante de córneas, e da oportunidade da constituição e desenvolvimento do NCHD para identificar e validar dadores.

A colheita de córneas no HFF, iniciou-se ainda em 2012 em dadores multiorgânicos em morte cerebral, quando oftalmologistas começaram a participar nas colheitas de órgãos no Bloco Operatório, mas a ambição foi mais longe, com o desenvolvimento de um Programa de Doação e Colheita em coração parado a partir dos óbitos ocorridos em qualquer Serviço Hospitalar, e que teve início em 2013.

Ao longo destes 10 anos, foram muitos os ajustes feitos ao processo de referenciação, avaliação, validação e colheita de córneas, envolvendo Serviços e profissionais de diferentes áreas, acompanhando a dinâmica dos recursos humanos, técnicos e estruturais do Hospital.

Trata-se de uma atividade que envolve um grande número de profissionais, que tem de acontecer de forma não planeada e que se desenrola num curto espaço de tempo desde a identificação de dadores até à colheita.  Representa assim, um enorme desafio que só é alcançado pela motivação dos numerosos intervenientes e um esforço acrescido às atividades hospitalares de cada um.

Nesta década, foram colhidas um total de 458 córneas, das quais 364 em dadores de coração parado e 94 em morte cerebral. Foram realizados no mesmo período 109 transplantes no HFF e outros tantos no Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, instituição parceira do HFF.

A qualidade e segurança relativamente às córneas colhidas tem sido uma preocupação do NCHD. Estes aspetos foram devidamente avaliados ao longo dos anos pelas autoridades competentes – Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) e Direção-Geral da Saúde (DGS) -, e foram mais recentemente consolidados pela atribuição da Certificação ISO 9001 atribuída por entidade externa em 2022 e revalidada já em 2023.

Apesar dos resultados qualitativos alcançados, existe ainda uma significativa oportunidade de melhoria quantitativa nos resultados deste Programa. A sistemática referenciação de óbitos pelos Serviços de Internamento, o alargamento dos horários de colheita e a evolução nas técnicas de preservação das córneas, são pontos fundamentais para minimizar a perda de dadores e córneas para transplante.

A falta de córneas disponíveis continua a ser o principal fator limitante para a transplantação.

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