A Unidade de Cuidados Intensivos e Especiais Pediátricos (UCIEP) do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), organizou o XXIII Congresso Nacional de Medicina Intensiva Pediátrica da Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Nos passados dias 14 e 15 de outubro realizou-se assim uma proveitosa discussão científica e partilha de experiências, após quase dois anos de interregno.
Este Congresso realizou-se exclusivamente em formato online. A participação excedeu, ainda assim, as expectativas da organização, contando-se com diversos participantes nacionais e internacionais.
O primeiro dia deste evento contou com peritos, cientificamente reconhecidos na sua área de intervenção. Através da partilha da sua experiência e da mais atual evidência, contribuíram para a reflexão crítica sobre os desafios para os cuidados de enfermagem em cuidados intensivos pediátricos.
Este dia foi organizado com o objetivo de fomentar a discussão em torno das diferentes dimensões do cuidado de enfermagem, com particular enfoque no cliente pediátrico com doença aguda (mesa 1) ou crónica (mesa 2) internado em cuidados intensivos pediátricos, assim como a necessidade de promoção da esperança neste contexto (painel). Além destes aspetos, foi ainda abordada a importância da qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem (mesa 3), tendo em vista o desenvolvimento do pensamento de enfermagem e a melhoria contínua de cuidados.
Na mesa 1 focaram-se os desafios diários com que os enfermeiros são confrontados ao prestar cuidados a crianças com doença aguda internadas na UCI pediátrica. Abordaram-se os seguintes temas: as intervenções de gestão terapêutica instituídas à criança com doença cardíaca, tendo em vista a eficiência dos cuidados de enfermagem; as estratégias mobilizadas para a comunicação com a criança submetida a ventilação mecânica invasiva, por forma a fomentar uma relação terapêutica eficaz; a gestão de terapêutica narcótica, com particular enfoque sobre o desmame opioide, tendo em vista a segurança do cliente pediátrico; e a forma como a pandemia influenciou a interação dos enfermeiros com as crianças e famílias, bem como as estratégias implementadas para colmatar as restrições por esta impostas.
A mesa 2 pretendeu refletir a crescente prevalência de internamentos de crianças com doença crónica em cuidados intensivos e a necessidade de adaptar os cuidados de enfermagem a esta nova realidade, com o objetivo de satisfazer as suas necessidades multidimensionais e respeitar as suas rotinas e dinâmica familiar. Para tal, foram discutidos: os cuidados de enfermagem à criança em diabetes tipo 1, que exigem uma abordagem inovadora e que integre o plano terapêutico instituído, tendo por base as mais recentes guidelines; as novas abordagens (tecnológicas e terapêuticas) à criança com drepanocitose, que permitem uma maior sobrevida e melhor qualidade de vida; o impacto da ventilação mecânica não invasiva na doença crónica respiratória pediátrica e o reflexo ao nível dos episódios de urgência e dependência de cuidados de saúde diferenciados; e a presença cada vez mais frequente da criança com doença crónica complexa no domicílio, que necessita de cuidados de saúde diferenciados e que constituem um verdadeiro desafio para as equipas de saúde.
O painel “Promoção da Esperança em Ambiente Tecnológico” trouxe à discussão a intervenção de enfermagem na construção de um ambiente seguro e favorecedor da promoção da esperança, tendo por base a partilha de experiências (na primeira pessoa) de famílias que estiveram internadas em cuidados intensivos pediátricos. Neste, contou-se com a participação de três oradores, que refletiram sobre o impacto das estratégias promotoras de esperança (implementadas pela equipa de saúde) e do projeto Operação Nariz Vermelho no processo de transição e bem-estar destas famílias.
Por último, na mesa 3 deu-se particular enfoque ao papel do enfermeiro numa UCI pediátrica e o seu contributo para a segurança e qualidade dos cuidados. Os temas em análise centraram-se: implementação de escalas de avaliação da satisfação dos cuidados instituídos como determinante para o investimento em saúde; a importância de cada uma das diferentes especialidades de enfermagem neste contexto, que exige cuidados diferenciados e complexos, para que os outcomes sejam os melhores possíveis; qualidade dos cuidados e prevenção do erro terapêutico através da adoção de dotações seguras; e da reflexão sobre o burnout nos profissionais de saúde e o seu impacto nos cuidados prestados / nas instituições, bem como nas estratégias para a sua prevenção.
No segundo dia do Congresso, mais centrado na área médica, discutiram-se as mais recentes orientações referentes à reanimação pediátrica, assim como avanços técnicos em ventilação mecânica invasiva e não invasiva. A doença COVID pediátrica, uma matéria muito relevante neste último ano e meio de pandemia, foi outra matéria que contou do programa do evento.
Associado ao congresso, decorreu também um curso de ventilação não invasiva pediátrica, com um componente online e presencial organizada no HFF. Esta iniciativa paralela do XXIII Congresso Nacional de Medicina Intensiva Pediátrica contou também com uma grande adesão e participação, representando também um momento muito relevante deste evento.