Mais de meia centena de pessoas ligadas à ULS Amadora/Sintra estiveram presentes na ação que pretendeu celebrar o dia 2 de abril como “O Dia para a Consciencialização da Perturbação do Espectro do Autismo (PEA)”, estabelecido em 2007 pela ONU.
A realidade portuguesa mostra, num estudo de prevalência conduzido pela Universidade de Coimbra, que 1 em 1000 crianças em idade escolar têm autismo.
A PEA é uma patologia neurobiológica crónica que se caracteriza por défices no funcionamento social e comunicação.
Os indivíduos afetados pela PEA apresentam dificuldade na interação social com pares. Podem também apresentar défices no processamento da informação sensorial (como visão e audição). Podem ter interesses muito restritos e comportamentos repetitivos (ritualizados).
O diagnóstico é clínico, e devem ser excluídas várias comorbilidades, como patologia psiquiátrica ou epilepsia.
A intervenção deve ser realizada o mais breve possível, de modo a poder melhorar o prognóstico destas crianças. Devem ser fornecidas estratégias aos pais, sobre como promover a comunicação e interação social. Deve ainda ser feita a referenciação ao Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI), de forma a proporcionar uma intervenção holística à criança.
A PEA é uma patologia crónica, com implicações ao longo de toda a vida, pelo que a intervenção atempada poderá modelar o futuro destas crianças e das suas famílias. É essencial formar os profissionais de saúde, quer na comunidade, quer em ambiente hospitalar. E é fundamental dar voz a estas famílias, e combater o estigma a que podem ser sujeitas.
A Ação da ULS Amadora/Sintra
A experiência recolhida nesta ação de reflexão levada a cabo no Auditório do Hospital Fernando Fonseca, naquilo a que se convencionou chamar “Uma Manhã pelo Autismo”, mostrou que a doença ainda é uma realidade que merece algumas dúvidas de interpretação tais são as manifestações diferentes evidenciadas por cada criança com esta Perturbação.
O caso do João, de 4 anos, foi um exemplo levado a discussão dos intervenientes. Nascido em 2020, só foi referenciado à ULS em 2023 (quando tinha três anos) e depois da mãe ter verificado manifestações estranhas da criança: não tinha qualquer reação ao toque, apresentava dificuldades em dormir, tinha birras constantes. De acordo com a terapeuta ocupacional que se ocupou dele, “a criança passava muito tempo no mundo dele. Alheando-se e reagindo mal a estímulos exteriores”.
A maior parte das crianças referenciadas são-no através da família. É no seio familiar que se começam a notar diferenças de comportamento: seletividade na alimentação, choros sem razão aparente, birras (muitas), dificuldades na fala. São os pais que, perante aquilo que entendem ser um “comportamento que não é igual aos outros meninos” recorrem aos serviços de Pediatria hospitalar.
No nosso caso, o acompanhamento destas crianças faz-se não só em contexto hospitalar como, também, ao nível dos Centros de Saúde da ULS Amadora/Sintra.
O diagnóstico do autismo é muita vez perturbado por sinais que evidenciam, antes, epilepsia, facto que pode ser despistado através de eletroencefalogramas prescritos pelos médicos assistentes.
A ação desta terça-feira, Dia para a Consciencialização da Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) envolveu profissionais de várias áreas, desde pediatras a psicólogos, passando por terapeutas ocupacionais e, sobretudo, moderadores de conflitos entre pais e as crianças.