“26 anos, 26 testemunhos” – Dalila Estêvão

16 Julho, 2021

Diz, sem hesitações, que o Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) é o maior empreendimento da sua vida profissional. Não é para menos, pois no passado dia 5 de junho, Dalila Estêvão, chefe do Departamento Administrativo, completou 26 anos ao serviço do HFF: começou a trabalhar na Instituição ainda antes dos primeiros utentes cruzarem as portas do hospital.

Em pequena, Dalila Estêvão acalentou o sonho de ser enfermeira, mas os ziguezagues da vida desviaram-na desse propósito. O casamento e os três filhos rapazes, que fazem brilhar os seus olhos, foram, no início da vida adulta, o seu foco e a eles se dedicou a tempo inteiro.
O destino tem os seus caminhos e puxou-a para a Saúde. Foi precisamente uma enfermeira amiga que lhe falou da abertura de um concurso para admissão de administrativos no Hospital dos Capuchos. Candidatou-se, foi bem-sucedida, e ali trabalhou durante 15 anos, no âmbito das funções de secretariado e arquivo de diversos departamentos, entre os quais o de Cirurgia, onde iniciou a sua carreira.
Quando me convidaram para o HFF, dizia-se que este ia ser um Hospital muito inovador, sem papel, equipado com computadores. Era um enorme avanço, era o futuro! Até então, todas as fichas eram datilografadas, e já tinha sido uma grande inovação quando passámos a trabalhar com máquinas de escrever elétricas”, recorda.  Dalila aceitou de imediato o desafio de integrar as equipas fundadoras do HFF, mas admite que não foi fácil: “o pessoal contratado tinha muito pouca ou nenhuma experiência em Saúde, alguns vinham de profissões que nada tinham a ver com este setor, e tivemos que dar formação de conceitos básicos da prestação de cuidados de saúde”.
No entanto, grande parte desses administrativos ainda se encontra no HFF, e são poucos aqueles que pertencendo à Direção de Produção, não tiveram a sua aprendizagem ao lado de Dalila Estêvão. Refere-se a esta equipa carinhosamente como “os meus meninos”.
Dalila Estêvão explica a dificuldade e a responsabilidade do trabalho da equipa que chefia e o desafio diário que enfrentam todos os dias há 26 anos: “os Administrativos são a montra do Hospital, pois são o primeiro contacto com o utente. Têm de ser hábeis e assertivos, para saber gerir a informação que detêm e transmiti-la, de forma clara e adequada, de acordo com o perfil dos doentes que estão à sua frente”. E acrescenta que “temos de ter em conta que esses utentes, muitas vezes, se encontram extremamente debilitados física e emocionalmente”.

No primeiro ano de atividade do HFF, Dalila Estêvão foi uma espécie de figura omnipresente na abertura a público cadenciada dos diversos serviços do Hospital: primeiro a consulta externa, depois a urgência geral em abril de 1996, seguindo-se as urgências pediátrica e a obstétrica em junho de1996. Dalila chegou, inclusive, a ter dois gabinetes em pontas opostas do HFF e a gerir mais de 70 administrativos.
É com uma sonora gargalhada, que recorda a intensidade da aventura do primeiro ano de atividade do hospital. Na altura o seu marido, questionava-a quando chegava a casa, em jeito de provocação e ironia: “mas tu casaste comigo ou com o Fernando Fonseca?”

Conhece quase todos os trabalhadores do HFF pelo seu nome, um ensinamento que lhe passou a sua primeira chefe, e somos capazes de arriscar que também de algumas boas centenas de utentes do Hospital dos quais gere processos, exames ou transportes. Integra ainda a direção da Casa de Pessoal do HFF.

Continua todos os dias a enfrentar novos desafios e não pensa em reforma, porque garante que não há monotonia nos 26 anos de trabalho que acabou de comemorar no início de junho.
E até já tem identificado um dos próximos grande objetivos e desafio: a abertura do futuro Hospital de Proximidade de Sintra, que estará integrado no HFF.

Passados 26 anos de HFF e 40 de trabalho em Saúde, a chefe do Departamento Administrativo mantém a frescura, o humor, o “vestir da camisola” e o brio do primeiro dia em que se apresentou ao serviço no HFF. Mulher de garra, com os filhos já criados e avó de três netos que são a sua alegria, apostou na sua formação e licenciou-se, entre 2007 e 2010, em Administração Pública, demonstrando que nunca é tarde para concretizar planos adiados e vencer as adversidades.

Dos momentos insólitos guarda o dia em que teve que chamar a PSP, porque uma doente admitida na urgência do HFF quando houve necessidade de fazer o espólio porque iria ficar internada, verificamos que dentro dos vários sacos de plástico que se fazia acompanhar, lá dentro continham mais de 30.000 euros em notas. Muitas histórias difíceis passam também pelas suas mãos e da sua equipa – como os casos de violência doméstica, abusos sexuais ou violência sobre menores.

Os desafios não param e nos últimos 15 meses de pandemia, Dalila Estêvão e a sua equipa estiveram na linha da frente de num contexto árduo e nunca antes vivido no país e no mundo, que exigiu muito esforço e capacidade de adaptação e resposta do pessoal administrativo. É por isso sentido e simbólico este tributo que o HFF faz a Dalila Estêvão, como o primeiro testemunho da rúbrica “26 anos – 26 testemunhos”, em que a propósito do 26.º aniversário da Instituição damos a conhecer o testemunho de profissionais que trabalham no Hospital desde a primeira hora.

Fotografias do arquivo.