Equipa do Serviço de Oncologia HFF publica artigo em revista científica internacional que avalia as preferências de comunicação de doentes oncológicos

23 Novembro, 2023

Rodrigo Vicente, médico interno do 5.º ano do Serviço de Oncologia Médica do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF), em colaboração com diversos profissionais do serviço, desenvolveu, ao longo do último ano e meio, uma investigação intitulada “As Preferências da Comunicação do Doente Oncológico com o Médico Assistente na Primeira Consulta de Oncologia Médica”. Este estudo foi realizado em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, no âmbito da tese de Mestrado em Cuidados Paliativos que Rodrigo Vicente está a realizar.

A primeira consulta de oncologia médica é, para o doente, um momento determinante para a compreensão do diagnóstico e prognóstico da sua doença. Este projeto teve como objetivo avaliar as preferências de comunicação do doente oncológico durante a primeira consulta de oncologia médica e avaliar as diferenças entre as preferências (forma como os doentes preferem que os diferentes elementos da comunicação sejam transmitidos) e as perceções (experiência que os doentes tiveram na primeira consulta no serviço).

Métodos: Um total de 169 doentes oncológicos responderam ao Communication in First Medical Oncology Questionnaire (C-FAQ), um questionário constituído por duas partes que avalia as preferências e perceções do doente em relação ao conteúdo (qual e quanta informação é fornecida), facilitação (onde e quando a informação é transmitida) e suporte (apoio emocional) durante a sua primeira consulta de oncologia médica. Foi realizada uma análise comparativa para avaliar as diferenças entre preferências e perceções.

Resultados: O conteúdo foi identificado como a dimensão mais importante da comunicação em comparação com a facilitação e o suporte. O conhecimento do médico, a honestidade e a clareza das informações foram as características mais importantes. Os doentes avaliaram a maioria dos itens da primeira parte do questionário como “muito importante”. Contudo, a perceção dos entrevistados sobre os elementos de comunicação presentes durante a consulta ficou abaixo do esperado, revelando discrepâncias significativas na prática clínica.

Conclusões: As três dimensões de conteúdo, facilitação e suporte foram altamente valorizadas pelos doentes, embora as preferências se focassem mais no conteúdo. As discrepâncias entre as preferências e perceções de comunicação podem ser interpretadas como uma oportunidade para melhorar o treino das equipas médicas nas competências de comunicação.

Implicações clínicas: A compreensão das preferências de comunicação dos doentes permite que os clínicos estejam mais conscientes das necessidades do doente, contribuindo para alcançar os objetivos terapêuticos, mas também a sua satisfação e bem-estar. Devem ser promovidas discussões e reflexões sobre estratégias de comunicação com base nestes resultados, levando, por exemplo, ao desenvolvimento de diretrizes para o serviço que possam auxiliar os médicos no seu dia-a-dia. Tópicos como informar os doentes sobre o impacto prático do cancro na vida quotidiana e avaliar as suas necessidades de informação relativamente às opções de tratamento poderiam ser integrados, uma vez que, na maior parte das vezes, não são abordadas. A promoção de programas de formação em competências de comunicação para as equipas de saúde é essencial. A extensão deste estudo a outros centros poderá ser um passo importante para reforçar ou refutar os dados obtidos e estudar outras populações.

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