Paramiloidose: causas, sintomas e tratamentos

16 Junho, 2018

A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) ou paramiloidose é vulgarmente conhecida por doença dos pezinhos porque afeta, numa primeira fase, os membros inferiores. Os doentes começam a perder a sensibilidade, por exemplo, a estímulos térmicos e fica comprometida a sua capacidade motora.

Esta doença é causada pela alteração da estrutura de uma proteína produzida essencialmente pelo fígado, a transtirretina (TTR), que é depositada no sistema nervoso periférico, dando origem a uma polineuropatia sensitivo-motora progressiva.

A substituição de um único amino ácido, de valina por metionina, em posição 30 origina a mutação TTR Met 30, que é a principal forma mutada de TTR nos doentes PAF em Portugal.

A paramiloidose resulta assim de uma mutação que é transmitida de forma dominante. Ou seja, se o progenitor for portador, a probabilidade de um filho ser também portador da mutação é de 50%.

A doença desenvolve-se, geralmente, em doentes entre os 25 e os 35 anos. Pode, no entanto, só ser diagnosticada depois dos 50 anos.

Trata-se de uma doença hereditária, crónica, progressiva e fatal, com uma evolução, em média, de 10 anos.

 

SINTOMAS

De acordo com a Associação Portuguesa de Paramiloidose, a diminuição ou perda de sensibilidade à temperatura (frio ou quente), sensações como formigueiro ou dormência ou sensações de dor intensa (como queimadura) são os sintomas iniciais típicos da doença. Em geral, estes sintomas iniciam-se nos pés e pernas e vão subindo até às mãos gradualmente ao longo dos anos.

As pessoas podem ainda apresentar uma perda de peso involuntária, alterações do trânsito intestinal (obstipação ou diarreia), dificuldade em fazer as digestões ou disfunção sexual.

Progressivamente as alterações gastrointestinais tornam-se mais acentuadas com diarreias frequentes, náuseas e vómitos e alterações urinárias muitas vezes manifestando-se como infeções urinárias de repetição. Podem ocorrer tonturas ou mesmo desmaio com as mudanças de posição devido à diminuição da tensão arterial.

Com o passar do tempo, regista-se uma diminuição da força muscular que começa nos pés e pernas e progride para os membros superiores já numa fase mais avançada da doença.

Embora não seja comum numa fase inicial, podem ocorrer tonturas ou palpitações por alterações da condição cardíaca. Os depósitos de amilóide no músculo cardíaco podem também provocar, numa fase posterior, insuficiência cardíaca.

O envolvimento renal pode ocorrer em um terço dos doentes, sobretudo quando há história familiar de problemas renais. Pode ser uma manifestação precoce da doença em casos raros, mas habitualmente é uma manifestação tardia da doença, conduzindo à falência do rim e à necessidade de diálise.

As perturbações visuais, como visão turva, olho seco, glaucoma ou diminuição da acuidade visual, podem ocorrer em fases mais adiantadas da doença ou no início em associação com algumas mutações raras.
 

DIAGNÓSTICO

O caminho até um diagnóstico rigoroso é muitas vezes longo já que os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças mais comuns. Uma das razões para esse atraso reside no facto de os primeiros sintomas passarem com frequência despercebidos.

Por outro lado, devido à sua raridade, a paramiloidose não é muitas vezes considerada pelos médicos como um diagnóstico possível. Como resultado, os pacientes passam com frequência por múltiplas avaliações que podem levar a um tratamento inadequado.

Se há história familiar conhecida, o diagnóstico de paramiloidose é habitualmente feito por teste genético para deteção da mutação presente no membro da família afetado.

A confirmação da presença de substância amiloide num tecido através de uma biópsia é um exame complementar que permite identificar acumulação de amiloide responsável pelos sintomas da doença.

Com a descoberta do erro genético e bioquímico, o diagnóstico pode ser confirmado pela pesquisa da proteína mutante através da análise sanguínea.

Adicionalmente a avaliação cardiológica pode ser um exame importante no diagnóstico da paramiloidose, nomeadamente nas formas predominantemente cardiogénicas.

 

TRATAMENTOS

Os doentes com paramiloidose deverão ser seguidos por uma equipa multidisciplinar envolvendo um neurologista, um cardiologista, um nefrologista, um oftalmologista ou outros especialistas de acordo com o envolvimento de outros órgãos.

Se a doença já se tiver manifestado, é normal uma consulta a cada 4 a 6 meses para avaliar a doença.

Sendo o fígado a fonte primária de TTR mutada, o transplante hepático tornou-se uma terapêutica bem estabelecida para parar a progressão da doença e aumentar a qualidade de vida se realizado precocemente na evolução da doença.

Em Dezembro de 2010 tinham sido feitos 1917 transplantes, relacionados com a paramiloidose, em todo o mundo. Este procedimento pode retardar a evolução dos sintomas, embora não seja de esperar uma recuperação dos danos causados no organismo.

É por isso que o transplante é, em geral, considerado sobretudo para pessoas no início da doença, mais jovens, com sintomas menos avançados e com boa condição física geral.

Contudo, o transplante hepático apresenta limitações por ser um tratamento invasivo, com uma mortalidade perioperatória significativa e associada a diversos efeitos adversos resultantes da imunossupressão prolongada.

Até há uns anos, o transplante hepático era a única solução existente de combate à doença. Mas, em 2011, a Agência Europeia de Medicamentos aprovou a comercialização de um fármaco específico (Tafamidis) para o tratamento da paramiloidose em doentes adultos. Foi comprovado que esse medicamento permite estagnar o avanço da doença, aumentar a esperança e a qualidade de vida dos doentes.