O serviço de Pneumologia da ULS Amadora/Sintra atua no tratamento da doença da Tuberculose em vários níveis. Localizado no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, este Serviço hospitalar tem tido, desde a sua génese, uma participação ativa nos planos locais de saúde no combate à tuberculose. Atualmente, Inês Luz é a médica pneumologista que divide a sua semana entre o hospital e as consultas descentralizadas no Centro de Diagnóstico Pneumológico de Sintra que abriu portas há um ano. Partilhamos aqui o seu testemunho que decorre da intervenção no combate à TB e também a atuação do Serviço de Farmácia na dispensa da terapêutica.
Inês Luz, Serviço de Pneumologia: “Os/as doentes são encaminhados/as para o Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Sintra ou da Amadora e são seguidos/as durante 6 a 12 meses na fase de tratamento e à posteriori mais 2 anos na fase de vigilância. Durante essa fase de tratamento, eles/as têm 2 fases: a fase intensiva e a fase de manutenção. Na fase intensiva fazem mais medicação e portanto as consultas têm uma periodicidade maior: de 15 em 15 dias. Depois, na fase de manutenção, são consultas mensais. Esses/as doentes têm de fazer uma avaliação analítica, avaliação radiológica e uma vigilância clínica na consulta.
Geralmente, os/as doentes que vêm dos cuidados primários não estão diagnosticados/as; têm uma suspeita clínica elevada de Tuberculose – decorrente de um exame de imagem ou por sintomas clínicos sugestivos de tuberculose ou por um contacto com alguém com tuberculose. Aqui também entra a saúde pública e é um pouco diferente. Estes/as doentes habitualmente têm uma primeira consulta do CDP na qual são pedidos os exames complementares de diagnóstico e terapêutica. Muitas vezes é necessário fazer um exame endoscópico no hospital. Há uma articulação direta dos cuidados de saúde primários com o CDP através de e-mail, que funciona como a principal fonte de referenciação e no Serviço de Pneumologia temos um formulário próprio para os cuidados de saúde primários que eles/as devem enviar, utilizando o e-mail, que auxilia à organização da informação e apoia o envio de informação ao hospital pelos/as colegas dos cuidados de saúde primários. Esses/as doentes muitas vezes têm de vir ao hospital fazer exames endoscópicos aqui na broncologia (Unidade de Técnicas de Pneumologia).
Se o diagnóstico se confirmar, passam a ser seguidos/as no CDP, se não se confirmar, o Serviço de Pneumologia dá o encaminhamento necessário e orienta para a consulta de Pneumologia hospitalar ou medicamos e vemos se a situação se resolve, porque por vezes há falsas suspeitas. Habitualmente estes/as doentes são encaminhados/as se o diagnóstico não se confirmar para a consulta de Pneumologia.”
Como se processa o ensino e dispensa medicação para a TB?
A médica pneumologista Inês Luz, explica: «Os/As doentes são medicados/as com fármacos de dispensa hospitalar que tem de ser feita em regime de “tod”, ou seja de toma observada direta. O Tratamento da tuberculose implica o/a doente ter de fazer a administração da terapêutica, sob vigilância. Assim, garante-se que efetivamente é realizada a medicação.
Quando decidimos que é para tratar, articulamos com o Centro de Saúde da área de residência do/a doente. Vemos onde o/a doente mora, articulamos com a equipa de enfermagem do Centro de Saúde da área de residência e enviamos a prescrição para o hospital. A prescrição chega aqui ao hospital tem o/a farmacêutico/a que faz a preparação da medicação e que depois vai distribuir nas diversas unidades funcionais que são os centros de saúde onde o/a doente vai tomar a medicação aos dias de semana. Ao fim de semana faz a medicação em casa. Há aqui uma estrutura muito bem montada e organizada, na qual se articulam os/as profissionais de hospital, CDP e centros de saúde – e que tem funcionado muito bem.
O CDP de Sintra onde trabalho, abriu no ano passado. Sintra é o concelho maior da área de abrangência da ULS Amadora/Sintra. A utilização e contacto próximo entre cuidados de saúde primários e Hospital é importante na organização da informação e necessidade de referenciação para o SINAVE, caso seja um caso confirmado de TB, contendo os critérios de referenciação, local de referenciação, nome do médico/a referenciador/a e o contacto preferencial. Muitas vezes, falo diretamente com os/as colegas dos cuidados de saúde e eu acho que funciona porque há esta “abertura”, flexibilidade e facilidade de contacto.
O objetivo é o CDP ser, não só um local para os/as colegas enviarem os/as doentes, mas integrar um sistema mais completo: em caso de dúvida existe um/a pneumologista disponível para esclarecer algumas dúvidas, se vale a pena fazer ou se não vale a pena fazer mais exames, se reavaliamos com outra TAC, com outro exame de imagem e depois se confirma se é ou não TB. Porque muitas vezes, também notei que havia referenciação errada: tudo podia ser TB e às vezes os/as colegas enviavam situações em que não fazia qualquer sentido ser TB. Por isso, também há aqui esta forma de “consultoria” para que se consiga ter uma articulação ágil em que os doentes saem beneficiados. Tem de ser assim. Tem de haver esta abertura, flexibilidade e facilidade de contacto”.
O CDP de Sintra tendo sido realizado de raíz, permitiu que os circuitos tenham sido organizados desde o princípio. O sistema de “Tod” já existia para alguns doentes, mas nós dinámizamos e tornámos a realidade para todos/as. Depois temos outra situação muito importante neste processo: as associações de apoio aos/as doentes como a AJPAS – Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde e a Ahseas – Associação Humanitária de Saúde e Apoio Social – que são muito úteis no apoio à adesão da medicação, junto de doentes com dificuldades, mobilidade ou que não têm meios para se deslocarem ao centro de saúde ou a consultas de especialidade. As associações prestam a todo esse apoio e orientam também as/os doentes nos exames e quando os utentes têm de realizar algum tipo de tratamento, portanto dão-nos também uma grande ajuda.»
Serviço de Farmácia HFF
Na farmácia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca é organizada a dispensa individualizada aos/as doentes em tratamento de TB que é enviada para Centros Diagnóstico Pneumológicos (CDP) ou para qualquer outra unidade saúde familiar. Todos os meses é realizada esta preparação para os CDPs quer para Sintra, quer para a Amadora. O Serviço de Farmácia garante também a reposição para centros de saúde com todo o tipo de material acessório de apoio a estes/as doentes. Esta tarefa no Serviço de Farmácia do HFF conta com a técnica coordenadora de farmácia (TSDT) Sofia Tomar e a farmacêutica Daniela Sousa.