Alexandra Castela dedicou mais de metade da sua vida, ou 26 anos, ao Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF). “É a minha segunda casa”, diz, sem hesitações, para depois complementar com uma gargalhada: “Se calhar, até passei mais horas neste hospital do que em casa!”
Natural de Portimão, as raízes de Alexandra Castela, Técnica de Apoio de Sistemas do Serviço de Tecnologias de Informação e Comunicação do HFF, estão muito ligadas à Saúde – o seu avô e bisavô eram médicos. Também devido a esta ligação familiar, Alexandra Castela sempre se sentiu muito à vontade e atraída por hospitais e por saúde. Chegou a acalentar o sonho de se tornar veterinária. O destino, no entanto, encaminhou-a para a engenharia informática, a profissão do futuro.
E foi, de facto, no mundo dos sistemas informáticos e no mundo dos computadores que Alexandra Castela trilhou toda a sua carreira, entre as paredes e ao longo dos corredores do HFF. “Falava-se de um novo hospital que ia abrir”, recorda. “Sempre gostei muito de Saúde, pareceu-me um desafio que poderia abraçar.” Candidatou-se, então, àquela que viria a ser a sua primeira experiência profissional extra-estágio após a formação universitária.
“Ainda me recordo da primeira vez que vim ao HFF ainda para a entrevista de emprego. Não havia quaisquer transportes para o hospital, o acesso ao IC19 ainda não tinha sido construído, e eu não conhecia nada na Amadora. A certa altura, o táxi entra por uma estrada de terra batida e eu só penso: mas onde é que me estão a levar?”, partilha Alexandra Castela. Foi escolhida para ocupar o lugar, numa altura em que existiam ainda muito poucas mulheres na informática. “Atirei-me de cabeça, dediquei-me integralmente. Era um início e éramos muito poucos, mas estávamos muito entusiasmados, e havia um bom ambiente, uma grande pertença”, recorda.
O salto tecnológico que o HFF impôs na sua abertura também é motivo de orgulho para Alexandra Castela: “Instalei os primeiros computadores do HFF – todos topo de gama. Foram muitas diretas e noitadas sem dormir para garantir a abertura dos serviços”, lembra. Na verdade, Alexandra Castela lembra-se com uma precisão incrível desses tempos iniciais: “Se não estou em erro, foram 137 computadores e 115 terminais. O atual ginásio do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação era o hangar de montagem dos computadores”, explica.
Alexandra Castela relembra a dimensão do desafio que a equipa fundadora do HFF abraçou: “Há 26 anos não havia computadores como há hoje! E os hospitais trabalhavam essencialmente com papel. Era todo um mundo novo aquele que estávamos a construir no HFF!”, diz.
“Tivemos que dar apoio, formação, esclarecer dúvidas, e contornar com alguma paciência as resistências à mudança e à evolução tecnológica que estávamos a implementar”, admite. Essa foi a parte do trabalho que mais seduziu Alexandra Castela: “Há aquela imagem dos informáticos muito fechados sobre si, a fazerem programação atrás de um ecrã, mas eu não sou assim. O que mais me fascinou nestes últimos 26 anos foi a interação com as pessoas. É claro que também sabemos que os informáticos têm as ‘costas largas’ e às vezes são culpados por tudo e por nada”, brinca.
Passados em retrospetiva, foram 26 anos ao serviço do HFF, repletos de aventuras, desafios, camaradagem e, também, de acontecimentos insólitos, como as visitas de cabeças de gado da quinta adjacente ao HFF aos corredores do ainda fechado hospital, ou a presença de gigantescos lagartos, que se banhavam ao sol, nos vãos das janelas dos gabinetes dos primeiros colaboradores da instituição.
Alexandra Castela recorda também o “apagão” do sistema informático que durou dois dias, causado por um tropeção num cabo de ligação aos servidores do hospital, ou a passagem de ano que celebrou com os colegas de serviço sem direito a passas e champanhe por causa do muito badalado “bug” informático do ano 2000. “Ficámos os três colegas, cada um a olhar para um monitor, e – felizmente – nada aconteceu! Depois, fomos convidados pelos colegas do Serviço de Urgência para comemorar a chegada do novo milénio. Nessa noite, todos os corredores do hospital estavam vazios, não se via ninguém…”, recorda.
A pandemia foi o mais recente desafio que os sistemas de informação hospitalares tiveram de enfrentar, com a reorganização das equipas e dos serviços hospitalares para dar resposta à situação epidemiológica: “Foi um volume de trabalho enorme que exigiu um esforço incrível da equipa e sempre em contrarrelógio”, afirma, explicando em detalhe o que esteve em causa: “Houve a necessidade de reconfiguração de circuitos, abertura de novos postos de atendimento, instalação e reforço de terminais nos serviços dedicados à COVID que o hospital abriu, ao qual acresceu o desafio do teletrabalho, com a preparação de centenas de computadores para todos os trabalhadores que tinham de trabalhar a partir de casa”.
Com tantos avanços tecnológicos que ajudou a implementar no HFF, Alexandra Castela conclui: “Construir um hospital do nada, informatizá-lo e mantê-lo atualizado ao longo de mais de 26 anos é uma experiência única de uma vida! O meu futuro é no HFF e sei que vou ainda acompanhar grandes avanços tecnológicos na Saúde”.
Fotografias de arquivo.